sexta-feira, 24 de abril de 2009

Descascando





O mundo é feito de camadas. Talvez por isso estejamos tão distante da essência.


As camadas criam labirintos em nossas vidas, caminhos instáveis que em seus meandros corremos o risco de sermos devorados pelo Minotauro ou qualquer outro ser igualmente criado por nossos erros e inadvertidamente alimentado pela nossa arrogância.

São cascas. Matrioshkas são feitas de cascas, e são ocas! Quantas camadas externas existirão até encontrarmos a boneca maciça, consistente? Quantas partes de nós são realmente relevantes e inteiras?

Não é à toa que o inferno para Dante é representado por círculos. Nove. Faz-me pensar nas nove partes do mundo que nossas cascas nos impedem de ver. Viver segmentado e cego da sua realidade é o próprio inferno. Pior que encontrar com Lúcifer, é encontrar com o Ego no centro de tudo. A própria representação do umbigo. Um ovo Fabergé com uma belíssima coroa de brilhantes em miniatura dentro, que na verdade não serve pra nada. A não ser ornar o tal do Ego.

Eu já abri a caixa de Pandora de minha vida. Vi todos os males que fiz a mim mesma e hoje compreendo que estavam ferindo minhas cascas, apenas as cascas. Talvez tenham ajudado a quebrá-las. No mito grego, a caixa é aberta por Pandora mais uma vez, e só a esperança permanecia lá.

No âmago das nossas vidas, encontramos a relevância e a esperança. O resto é casca.




Grão de Luz 2009

Nenhum comentário:

Postar um comentário