domingo, 18 de julho de 2010

Mercadão de Madureira

A experimentação de outra realidade é sempre algo instigante. O contato com populares esfrega nos olhos um outro conceito de estética, precisão e ambições existentes, nos fazendo perceber a necessidade de entendimento desta dinâmica peculiar para abocanhar o mercado cada vez mais emergente entre as parcelas mais baixas da população. O Mercadão de Madureira é uma instalação de certa forma bem organizada, onde existem corredores estreitos e sinalizados, com placas indicando sanitários e saídas adequadamente, diminuindo a possibilidade de se perder entre um sem número de lojas parecidas. Várias são as sessões que podemos encontrar. A primeira coisa que chama atenção é a profusão de lojas contendo artigos religiosos, especialmente relacionados à umbanda, onde velas, águas de cheiro e animais para sacrifícios, como pombos, galos e bodes, podem ser facilmente adquiridos. Resta saber se irão trazer o amado de volta em 3 dias. Mais a frente, observa-se uma linha de montagem de brinquedos piratas, destes que são facilmente encontrados nas esquinas do centro da cidade, o que atrai inúmeras crianças que se encantam com o mundo lúdico e podem por alguns momentos esquecer a violência tão abundante que lhes ronda diariamente. Ficam imersos naquele universo até se darem conta que perderam a mãe de vista, entrarem em breve desespero ao olhar ao redor e encontrá-la na loja ao lado, comprando artigos apimentados que serão usados para a prática de aumentar a filharada, e quem sabe até virar foto para colocar no Orkut.
Em um dos cantos, ervas e preparados para emagrecer milagrosamente estão expostos prometendo melhorar a saúde daquela gente feia, gorda e mal cuidada. E no meio da ração humana se misturam uma diversidade de rações animais, colocando na mesma prateleira as cabras do sacrifício e as pessoas suburbanas. É uma mistura que chega a ser cruel. Ao lado, encontram-se artigos de festas sazonais e fogos de artifícios. É uma gente muito simples, alguns com as famílias completas, outros em iminência de festejar algo, que não portam qualquer referência a marcas conhecidas, como se a publicidade não fosse feita para se vestir. Os pesquisadores distinguiam-se dos locais, que os observaram com a curiosidade de quem se sente invadido em seu ambiente familiar.
Após um pitoresco momento pastel de feira com garapa, vão embora com as narinas impregnadas pelo cheiro do alisante de cabelo, que parece ser uma unanimidade estética na região, e com as retinas incomodadas pelas unhas excessivamente desenhadas e compridas, fechando uma experiência antropológica, cercada de clubes noturnos e concorrentes menos organizados, cravada no coração de um dos bairros mais antigos da cidade.

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