sábado, 31 de julho de 2010

Budapeste







Quando era pequena, achava que a Hungria era uma terra muito distante e estranha. Tinha impressão que fosse cinzenta, sem graça, como toda a europa oriental. Tenho certeza que esta imagem era o que o ocidente vendia como sendo a dos países comunistas: feios, quadrados, sem cor.
O interior do país seria uma série de descampados contendo campos de concentração, onde se matava judeus e depois os resistentes ao regime vermelho. Não existiria esplendor, luxo, alegria.

No entanto, me surpreendi ao chegar em Budapeste. A cidade é pulsante. Cortada ao meio pelo Danúbio, que não é azul, mas amarelo, o rio é a coluna vertebral da cidade. De um lado Buda, ou o deslumbramento, de outro, Peste, ou a imponência. Sob a regência de uma lua cheia onipresente, a cidade tem cheiro de modernidade e juventude. Mesmo que as marcas de anos de comunismo ainda possam ser vistas nos antigos vagões e na espartanamente eficiente malha do metrô, todo o resto nos inspira familiaridade, exceto pela língua...

Andando descansadamente entre as ruelas da cidade alta de Buda, todo o ranço do comunismo se desfaz na minha cabeça. A vista de lá é indescritível. Abaixo do catelo de Buda, labirintos ainda existem e podemos brincar dentro deles. Ao perder-se dos pensamentos no Bastião dos Pescadores, tem-se Peste aos pés: o estupendo prédio do Parlamento, a Catedral de Santo Estévão, as pontes. A vertigem que se sente ao entrar na majestosa Ópera, que Sissi preferia à de Viena com razão de ser. Seu salão carmim com dourado grita a época de ouro do império Austro-Húngaro. É como se Franz Joseph ainda reinasse e as grandes guerras não tivessem existido.

E como Deus é um só, e de todos os povos, a enorme sinagoga foi preservada pela Guestapo. Provavelmente não tiveram coragem de destruí-la, virou inclusive seu QG. O que não aconteceu com o bairro judaico. Quando andei pelas ruas estreitas, me senti num gueto, onde ainda há buracos nas paredes, tintas velhas e desbotadas nas fachadas das casas e um ar pesado, como que impondo a presença de tanto horror e ignorância.

Mas ainda há o castelo de Peste com a Praça dos Heróis de outrora e o melhor happy hour da cidade: as Termas. Água quente, jatos de massagem, uma lua estourando de cheia e uma juventude que se mostra falante e extrovertida, bem diferente dos que ainda têm nos seus hábitos as marcas do totalitarismo. Se a vida vale pelas experiência que temos, essa foi incrível.

E como se tudo isso não bastasse, inúmeras cervejas para se degustar, gaspacho com vinho para me esquentar e um povo educado e muito belo.
Fui embora de trem, e vi campos, florestas e castelos pelo caminho. Só indo para o mundo que se descobre como ele é diferente daquilo que nos vendem. Próxima parada Eslováquia.
Viszlát.
Amíg a következő alkalommal.

Um comentário:

  1. Na minha infância eu morria de medo do comunismo. Morei na Inglaterra e achava ela muito perigosamente próxima da temida União Soviética. Fiquei mais aliviado ao voltar ao Brasil, mas um dia tive um pesadelo: o mundo estava pintado de azul e vermelho e o Brasil era... VERMELHO! Acorda de susto!!!
    Não pensava muito em arquitetura, mas certamente se pensasse seria mesmo cinza, sem graça, sem vida. Me diziam que se eu morasse num país comunista não poderia escolher minha profissão, o Estado iria me escalar para trabalhar naquilo que lhe fosse mais interessante. Recentemente me descobri fazendo um curso de graduação em determinada área basicamente por ser isso que o mercado está demandando. Legal o seu relato de Budapeste, espero ter também o prazer de visitá-la.

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