Quando era pequena, achava que a Hungria era uma terra muito distante e estranha. Tinha impressão que fosse cinzenta, sem graça, como toda a europa oriental. Tenho certeza que esta imagem era o que o ocidente vendia como sendo a dos países comunistas: feios, quadrados, sem cor.
O interior do país seria uma série de descampados contendo campos de concentração, onde se matava judeus e depois os resistentes ao regime vermelho. Não existiria esplendor, luxo, alegria.
No entanto, me surpreendi ao chegar em Budapeste. A cidade é pulsante. Cortada ao meio pelo Danúbio, que não é azul, mas amarelo, o rio é a coluna vertebral da cidade. De um lado Buda, ou o deslumbramento, de outro, Peste, ou a imponência. Sob a regência de uma lua cheia onipresente, a cidade tem cheiro de modernidade e juventude. Mesmo que as marcas de anos de comunismo ainda possam ser vistas nos antigos vagões e na espartanamente eficiente malha do metrô, todo o resto nos inspira familiaridade, exceto pela língua...
Andando descansadamente entre as ruelas da cidade alta de Buda, todo o ranço do comunismo se desfaz na minha cabeça. A vista de lá é indescritível. Abaixo do catelo de Buda, labirintos ainda existem e podemos brincar dentro deles. Ao perder-se dos pensamentos no Bastião dos Pescadores, tem-se Peste aos pés: o estupendo prédio do Parlamento, a Catedral de Santo Estévão, as pontes. A vertigem que se sente ao entrar na majestosa Ópera, que Sissi preferia à de Viena com razão de ser. Seu salão carmim com dourado grita a época de ouro do império Austro-Húngaro. É como se Franz Joseph ainda reinasse e as grandes guerras não tivessem existido.
E como Deus é um só, e de todos os povos, a enorme sinagoga foi preservada pela Guestapo. Provavelmente não tiveram coragem de destruí-la, virou inclusive seu QG. O que não aconteceu com o bairro judaico. Quando andei pelas ruas estreitas, me senti num gueto, onde ainda há buracos nas paredes, tintas velhas e desbotadas nas fachadas das casas e um ar pesado, como que impondo a presença de tanto horror e ignorância.
Mas ainda há o castelo de Peste com a Praça dos Heróis de outrora e o melhor happy hour da cidade: as Termas. Água quente, jatos de massagem, uma lua estourando de cheia e uma juventude que se mostra falante e extrovertida, bem diferente dos que ainda têm nos seus hábitos as marcas do totalitarismo. Se a vida vale pelas experiência que temos, essa foi incrível.
E como se tudo isso não bastasse, inúmeras cervejas para se degustar, gaspacho com vinho para me esquentar e um povo educado e muito belo.
Fui embora de trem, e vi campos, florestas e castelos pelo caminho. Só indo para o mundo que se descobre como ele é diferente daquilo que nos vendem. Próxima parada Eslováquia.
Viszlát.
Amíg a következő alkalommal.